Mônica Armada
A matéria divulgada pelo Fantástico revelando esquemas de desvio de dinheiro público da Saúde para beneficiar empresas e funcionários corruptos escandalizou o Brasil. Há muito tempo, é de conhecimento público que as compras e contratações de serviços pela administração pública estão envoltas em várias irregularidades, como tribunais de contas, meios de comunicação e as próprias corregedorias de órgão envolvidos denunciaram muitas vezes.
Por isso, o que mais causou revolta foi o descaramento como as propostas de corrupção são apresentadas. Ele deixou claro que o superfaturamento e o pagamento de propinas são ainda muito mais rotineiros do que imaginávamos.
Diante de tamanho descalabro, surge o clamor de todos pela punição dos corruptores, com tanto rigor como se deve punir os corruptos que aceitam a propina. E que a punição atinja os donos das empresas e não apenas os empregados. E assim deve ser.
Mas é preciso que a opinião pública e principalmente os servidores públicos examinem a questão com mais profundidade para identificar onde está a semente que gera a árvore da corrupção, cujos galhos se espalham pela administração pública. E a conclusão não será difícil: a entrega a empresas privadas de serviços públicos ou de órgãos públicos.
Fica claro que a privatização de serviços é o caminho aberto para que corruptores e corruptos desviem o dinheiro público, resultado dos impostos pagos pelos brasileiros. E deixa claro que a privatização tem como objetivo principal não aumentar a eficiência dos serviços, mas abrir as oportunidades para as maracutaias.
Afinal, na matéria do Fantástico, as empresas flagradas ofereciam propinas por serviços de aluguel de ambulância, fornecimento de comida, vigilância e recolhimento de lixo. São todos serviços que poderiam, e deveriam, ser prestados diretamente pela própria Universidade Federal de Rio de Janeiro, a maior universidade federal do país e com capacidade administrativa e quadro de funcionários de alta qualidade que não teriam dificuldades para executar tarefas como preparar refeições, tomar conta dos prédios ou retirar o lixo e dar ele a destinação correta, sem falar na compra e uso de ambulâncias.
No momento em que o estado e a cidade do Rio de Janeiro vivem a escandalosa privatização da saúde pública através da entrega dos serviços às organizações sociais, que não passam de empresas privadas com interesse em lucro, é preciso que a sociedade se mobilize. Permitir a continuidade desse processo de privatização será abrir as portas de postos de saúde, UPAs e hospitais à ação dos corruptores e dos corruptos. A matéria do Fantástico deixou claro para todo o Brasil e para o mundo qual é a ética do mercado da privataria, E ela não serve aos interesses da população.