Um dos princípios republicanos mais elementares é aquele que define o Estado como laico. Cabe aos governantes, portanto, manter a coisa pública acima dos interesses dos credos religiosos. Sim, porque entre os eleitores e cidadãos encontram-se pessoas de todas as crenças, além de agnósticos e ateus.
Por tudo isso, é um escândalo do ponto de visto ético e uma flagrante ilegalidade o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, ter sido pego com a boca na botija prometendo vantagens às custas do erário para pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, denominação neopentecostal na qual o prefeito exerce a função de bispo.
A gravação na qual Crivella promete cirurgias de catarata para seus irmãos de fé, naturalmente furando a fila do Sisreg, e isenção de IPTU para as igrejas da Universal é uma bofetada na cara dos servidores da prefeitura e da população carioca.
É interessante observar que a gravação veio à tona dias depois de Crivella ter aprovado na Câmara dos Vereadores o projeto de taxação dos servidores inativos, quando é do conhecimento público que bastaria a prefeitura saldar sua dívida milionária para equilibrar as contas do fundo previdenciário dos servidores. Mas ele preferiu investir sobre o bolso de aposentados e pensionistas.
A falta de pessoal nas unidades de saúde do município, que vem trazendo graves prejuízos ao atendimento de saúde da população, também não faz parte do rol de prioridades do prefeito, que as gravações deixam claro que é governar para a sua igreja.
Durante a campanha eleitoral não faltaram alertas sobre os riscos de uma cidade cosmopolita como o Rio de Janeiro, com sua vocação para a diversidade e todo tipo de manifestação artística e cultural, ser administrada a partir de convicções religiosas.
O SindEnfRJ já acionou seu departamento jurídico, que estuda as medidas cabíveis para que o prefeito responda na justiça por ter claramente violado a lei.