Em ato no Rio de Janeiro, presidente nacional da CUT aponta que articuladores do impeachment são os mesmos que atacam as organizações dos trabalhadores
Escrito por: Luiz Carvalho, do Rio de Janeiro • Publicado em: 09/12/2015 – 13:37 • Última modificação: 09/12/2015 – 13:41
Ao encerrar o primeiro ato público após os perdedores das últimas eleições emplacarem o pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, nesta terça-feira (8), no Rio de Janeiro, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, questionou as 20 mil pessoas que acompanharam a mobilização na capital carioca.
“Alguém aqui acha mesmo que o impeachment vai trazer algum ganho para a classe trabalhadora?”, perguntou. A resposta foi um uníssono ‘não’.
Ao retomar projetos de lei defendidos pela oposição que compõe o Congresso Nacional mais conservador desde a ditadura militar, Vagner reforçou de qual lado está quem tenta dar um golpe travestido de manobra legal.
“Quem defende o impeachment defende a terceirização, quer rasgar a CLT, acabar com todos os direitos trabalhistas. Os que defendem o impeachment são os que entendem que os direitos da mulher não devem ser válidos, que nossas crianças devem estar nas cadeias e não nas escolas, que transformam o Congresso num antro contra o avanço da igualdade. São aqueles que acham que a ditadura, que matou milhões, é boa para o Brasil, que não concordam com a política de valorização do salário mínimo, que não concordam com a política de igualdade entre negros e brancos”, enumerou.
Para o dirigente, mais do que Dilma, o alvo dos setores conservadores são as políticas sociais e quem cobra para que ela prossiga, caso da classe trabalhadora e das organizações sociais que ousam lutar por mais direitos serão criminalizadas. A resposta a eles será a mobilização sem trégua.
“Quero dizer ao Cunha (Eduardo Cunha, presidente da Câmara), ao PSDB, ao DEM e a todos os golpistas, vamos impedir o impeachment nas ruas. Porque as ruas são daqueles que lutaram para derrubar a ditadura e que vão colocar o Cunha na cadeia”, afirmou Vagner.
O ato
A marcha que tomou o Rio de Janeiro, cidade de origem de Cunha, responsável por acatar e comandar o processo de golpe travestido de legalidade, começo diante da Igreja da Candelária, local que ficou conhecido pela chacina praticada há 22 anos por policiais e que se tornou ícone da violência contra jovens negros e pobres no Brasil.
A manifestação seguiu pela Avenida Rio Branco, avermelhada por bandeiras, balões e fumaça, e terminou na Cinelândia com um grande samba contra o golpe.
Com a presença da CUT, de centrais sindicais parceiros e de representantes dos movimentos populares e partidos políticos, os discursos nas ruas foram acompanhados pelos gritos de “não vai ter golpe” e “Fora Cunha”. A defesa da democracia esteve estampada nas faixas, mas bem longe de ser um cheque em branco para Dilma, já que a cobrança pela manutenção da democracia vinha acompanhada da cobrança por uma nova política econômica, conforme prega o Compromisso pelo Desenvolvimento, conjunto de propostas das centrais e empresários divulgado recentemente.
Para o secretário nacional de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, o que está em jogo é o processo democrático brasileiro. “Não vamos permitir que ele sofra esse golpe. Sabemos da dificuldade do governo e estamos cobrando mudanças na economia, mas tirar a presidenta Dilma irá transformar o país num caos”, observa.
Presidente da CUT-RJ, Marcelo Rodrigues, também repudiou as artimanhas de Cunha. “Neste momento, a Constituição foi rasgada e o Cunha promoveu o desmonte do sistema político brasileiro. Mas se quer guerra, vai ter guerra”, definiu o presidente da CUT-RJ, Marcelo Rodrigues.
A postura do presidente da Câmara, ressalta a secretária de Mobilização e Relação com Movimentos Sociais da CUT, Janeslei Albuquerque, é a personificação dos piores personagens da política nacional. “Cunha se identifica com o que há de mais perverso, mais cafajeste e mais patife na política brasileira. Ele e todos os Caiados, Agripinos e Maias. Ele odeia, assim como a elite, o povo, as mulheres e a juventude”, afirmou.
Para refrescar a memória de muitos, o presidente da CUT Espírito Santo, Jasseir Fernandes, lembrou que a privatização promovida por quem antecedeu Lula e Dilma, traz prejuízos até hoje, como o rompimento da barragem na cidade mineira de Mariana.
“A terceirização é estratégia montada para fazer com a Petrobrás nada menos do que fizeram com a Vale do Rio Doce, que terceirizou as suas atividades com a Samarco e não mostrou compromisso com a classe trabalhadora e com a sociedade. As empresas ficam com os lucros e a sociedade com os efeitos do desastre”, salientou.
Por trás do golpe
Para o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, é preciso dar um cavalo de pau na arapuca armada pela Lava-Jato, construída para acabar com empregos. “Queremos que os corruptos sejam condenados, mas os trabalhadores da construção civil não podem pagar a conta”, disse.
O dirigente paulista lembrou que no dia 16 deste mês haverá um grande ato em São Paulo contra o golpe, com concentração na Avenida Paulista. “Vamos dizer lá, o que dissemos aqui: Não vai ter golpe!”
Para o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, o responsável por liderar o processo de impeachment é um chantageador das empresas identificadas na Lava-Jato e que conta com a complacência de seus pares no Congresso. “É um absurdo que ainda esteja solto. Mas homens e mulheres estão se unindo com isso porque querem a retomada dos investimentos, com geração de emprego e de renda para todos. E uma das poucas empresas que pode fazer a economia girar é a Petrobras que não tem um bando de ladrões como a mídia tenta passar, mas trabalhadores que a fazem ganhar prêmio após prêmio, inclusive por ter descoberto o pré-sal.”