Por site 247, com informações da Revista Época
Um homem que durante anos foi braço direito do cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, admitiu participar de esquema de corrupção na saúde do governo Sérgio Cabral. O ex-padre Wagner Augusto Portugal, que fechou delação premiada, confessou participação no desvio de 52 milhões dos cofres estaduais envolvendo contratos da Secretaria de Estado de Saúde do Rio com a organização social católica Pró-Saúde em 2013. A Pró-Saúde é sediada em São Paulo , mas os contratos com o Rio de Janeiro chegaram a representar 50% do faturamento nacional da entidade, que aumentou de R$ 750 milhões em 2013 para R$ 1,5 bilhão em 2015. Na última terça-feira (26), o ex-governador Sérgio Cabral prestou depoimento ao juiz Marcelo Bretas e disse não ter “dúvida de que deve ter havido esquema de propina com a OS (organização social) da Igreja Católica, da Pró-Saúde”.
“Não tenho dúvida. O Dom Orani devia ter interesse nisso, com todo respeito ao Dom Orani, mas ele tinha interesse nisso. Tinha o Dom Paulo, que era padre e tinha interesse nisso. E o Sérgio Côrtes nomeou a pessoa que era o gestor do Hospital São Francisco. Essa Pró-Saúde certamente tinha esquema de recursos que envolvia religiosos. Não tenho a menor dúvida”, afirmou.
A Operação Lava Jato investiga se as compras de roupas, artigos religiosos, refeições e viagens aéreas, incluindo voos fretados, foram ou não pagas com dinheiro da corrupção. Ainda não há indício de que Dom Orani tenha envolvimento direto esquema, como insinuou Cabral, de acordo com relato da Revista Época.
No ano passado, as investigações da Lava Jato, com a Operação S.O.S., mirou a organização criminosa comandada por Cabral e levou à prisão 21 pessoas, entre elas o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes e os empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita. A operação tinha como objetivo aprofundar a investigação sobre as fraudes ocorridas na Secretaria de Estado de Saúde do Rio com a contratação da Pró-Saúde.
Os investigadores suspeitam de crime de peculato porque uma entidade como a Pró-Saúde não pode auferir lucros. Como entidade filantrópica, a Pró-Saúde também não poderia ter figurado como uma das patrocinadoras da Jornada Mundial da Juventude, como ocorreu. A Lava Jato também apura se seis ou sete pessoas que trabalham diretamente para Dom Orani eram pagas pela instituição, assim como os carros que transportam os integrantes da cúpula da Arquidiocese.
Em nota sobre o depoimento de Cabral, a assessoria de imprensa da Arquidiocese do Rio afirmou “que a Igreja Católica no Rio de Janeiro e seu arcebispo têm o único interesse que organizações sociais cumpram seus objetivos, na forma da lei, em vista do bem comum”.
A Pró-Saúde informou que, em 2017, a nova diretoria da entidade tomou, espontaneamente, a iniciativa de colaborar com a apuração do Ministério Público Federal (MPF-RJ) no âmbito da Operação S.O.S: “A ação está em segredo de Justiça e tem resultado em importantes desdobramentos na investigação de práticas irregulares na gestão da saúde pública no Brasil. Em virtude do sigilo legal, a instituição não pode se manifestar sobre seu teor”.