O Dia : funcionários e pacientes fazem protesto contra falta de recursos do Hospital de Bonsucesso

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

A versão online do jornal O Dia publicou nesta segunda-feira, 23/7, matéria da repórter Najeda Calado sobre o protesto realizado no Hospital de Bonsucesso contra a falta de pessoal e insumos básicos para a realização de consultas, exames e cirurgias. A foto é de Maíra Coelho/Agência O Dia.

 Rio – Funcionários e pacientes do Hospital Federal de Bonsucesso, em Bonsucesso, Zona Norte do Rio, se manifestam nesta segunda-feira contra a falta de recursos da unidade. Eles denunciam falta de pessoal e de insumos básicos para a realização de consultas, exames e cirurgias. “Faltam medicamentos, e mais de 200 itens de laboratório, como cálcio e proteínas. Também ficam em falta materiais básicos, como seringas, agulhas, cateteres, fios de sutura”, afirmou o doutor Júlio Noronha, médico da unidade e delegado da Federação Nacional dos Médicos (Fenam).

O Hospital fica na Área de Planejamento 3.1, que compreende os bairros de Bonsucesso, Brás de Pina, Ilha do Governador, Maré, Complexo do Alemão, Penha, Parada de Lucas, Cordovil, Vigário Geral, Complexo da Maré, Manguinhos, Ramos, dentre outros.

Segundo o doutor Júlio Noronha, a falta de insumos faz com que pacientes tenham que fazer seus procedimentos em outras unidades. Ele citou o caso de pacientes com tumores no fígado, por exemplo: “O tratamento envolve o procedimento de quimioembolização hepática, mas não temos simples agulhas e cateteres para fazer o procedimento. Então, eles são transferidos para fazer isso no Instituto Nacional do Câncer (Inca). São doentes graves, precisam ficar indo e voltando, isso agrava ainda mais seus quadros”, lamentou ele.

 Durante o ato, profissionais também ressaltaram que médicos e enfermeiros estão tendo que comprar suas próprias luvas descartáveis, já que estão em falta na unidade.

Ainda segundo o médico, várias cirurgias são adiadas por falta de pessoal e materiais, e algumas só chegam a ser realizadas porque os pacientes se dispõem a levar de fora os materiais necessários. “É muito grave para os pacientes. A emergência que eles comemoram ter aberto, segue com várias salas fechadas e pacientes acumulados nos corredores, mesmo pacientes graves. As pessoas estão muito revoltadas”, afirmou.

A enfermeira Mônica Armada, do Sindicato dos Enfermeiros (Sindenfrj) também falou sobre as dificuldades enfrentadas. “Tem um grande déficit de profissionais da enfermagem, entre enfermeiros e técnicos. Só para reabrir a Emergência, seriam necessários mais 75. Não dá para trabalhar assim. O profissional da saúde tem vocação humanitária, não vai recusar atender uma pessoa precisando de ajuda. E sem recursos, isso dá margem para o erro. E erro, na saúde, não pode acontecer”, declarou.

De acordo com os funcionários da unidade de saúde, a emergência do Hospital foi inaugurada pela metade em 28 de fevereiro, e teve seu fechamento anunciado um mês depois, em 24 de março, porque a unidade com três mil metros quadrados e 60 leitos não contava com profissionais suficientes para as operações. 

O ato realizado na Praça da Liberdade, no pátio interno do Hospital, reúne mais de cem funcionários e pacientes do Hospital. Por volta das 11h35, os manifestantes aprovaram uma paralisação para o 10 de agosto.

 RESIDÊNCIA DO HOSPITAL A PERIGO

No ato, residentes do Hospital Federal de Bonsucesso indicaram que o programa de residência corre risco de fechar. Segundo o dr. Daniel Moreira Barbosa, residente em neurocirurgia na Unidade, os integrantes foram avisados de que o programa está em diligência por 90 dias, o que quer dizer que será reavaliado e não pode receber novos integrantes. Caso os problemas não sejam resolvidos, o programa pode chegar a fechar, e os profissionais podem ser transferidos a outros hospitais.

“O principal problema apontado foi a falta de recursos humanos. No caso da cirurgia, isso quer dizer, principalmente, falta de anestesistas”, disse o médico, que está em seu segundo ano de residência no Hospital. “O HFB tem tradição em cirurgia, mas o número de cirurgias vem caindo drasticamente. Hoje temos um dia por semana para usar a sala cirúrgica. Tenho uma enfermaria de pessoas com tumores no cérebro, mais uma fila de gente em casa aguardando vaga, e preciso dizer todos os dias que não temos como operar”, lamentou. 

Em nota, O Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) informou que está abastecido de insumos e materiais e mantém todos os serviços em pleno funcionamento, “inclusive no setor de emergência, onde atende em média 60 pacientes todos os dias. É um setor que funcionou todos os 204 dias deste ano para atender a casos de emergência hospitalar. Os demais casos que chegam direto e sem regulação à emergência do HFB, como doenças crônicas, por exemplo, são redirecionados às unidades municipais e/ou estaduais, responsáveis por esse tipo de atendimento”, disse o HFB. 

“Ao todo, 750 profissionais de saúde e de apoio à assistência estão em contratação até o final de agosto para o hospital, que já conta com um quadro atual de 3.975 trabalhadores. Os profissionais em contratação serão priorizados para a emergência e para as áreas de alta complexidade hospitalar hoje consideradas gargalos na saúde pública do Rio de Janeiro, como a oncologia”, finalizou a nota.